UNO Noviembre 2013

A saúde e a educação de amanhã

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Uma das principais características da atualidade é a velocidade das transformações que ocorrem quase que cotidianamente em nossas vidas. Se olharmos para o nosso passado recente, veremos a quantidade de itens que hoje são indispensáveis em nossas vidas e que poucos anos atrás eram apenas temas de ciência-ficção. Computadores e toda a sua gama de serviços disponíveis, como correio eletrônico e transmissão em tempo real de voz e imagem pela internet, telefones celulares, apenas para citar poucos exemplos, só existiam em nossa imaginação e mesmo assim em momentos de alguma dose de delírio tecnológico. O mundo mudou muito e continua a mudar aceleradamente. Hoje em dia, imaginar como será o dia de amanhã é um exercício de alto risco, comparável ao de jogar na loteria.

Esse contexto em constante transformação coloca em xeque a questão de como melhor atender as nossas necessidades à luz do que imaginamos ser preciso no mundo de hoje. No Brasil, há muitos anos a aspiração mais enunciada da sociedade brasileira é a de tornar o país plenamente desenvolvido – em suma, um país do chamado Primeiro Mundo. Os desafios são muitos e cada vez mais complexos – o mundo de hoje é mais complexo do que no passado. Os próprios indicadores do desenvolvimento são hoje mais numerosos e, de certa forma, mais subjetivos para qualificar um país e compará-lo com os demais.

É fora de dúvida que uma população mais saudável tem melhores condições de se inserir na população economicamente ativa e contribuir mais decisivamente para a geração de riqueza

O que se percebe, sem dúvida, é que atualmente os pré-requisitos incluem temas aparentemente não ligados de forma direta à expansão das atividades econômicas, que são a base do crescimento da economia, da geração de riqueza e prosperidade. As discussões sobre o desenvolvimento abrangem hoje em dia a dimensão ambiental (que é essencial para assegurar a sustentabilidade do processo), a questão da distribuição da riqueza que vier a ser gerada (que tem a ver com a dimensão social), bem como outros aspectos que, percebe-se com clareza crescente, têm impactos positivos na busca da prosperidade.

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Dentre esses aspectos, há que se ressaltar a saúde e a educação. Quanto à primeira, nem sempre é perceptível um vínculo claro entre saúde e desenvolvimento. É mais comum pensar que o desenvolvimento econômico gera prosperidade e meios para que haja mais acesso aos serviços de saúde e destarte se forme um círculo virtuoso entre desenvolvimento e saúde. É fora de dúvida que uma população mais saudável tem melhores condições de se inserir na população economicamente ativa e contribuir mais decisivamente para a geração de riqueza. Mas é preciso ter em mente que a saúde requer hoje pesados investimentos em conhecimentos e tecnologia, bem como uma capacitação cada vez mais complexa para médicos, dentistas, tecnólogos, enfermeiros e todos aqueles que de uma forma ou de outra têm a ver com a promoção da saúde.

Os desafios são variados: há que se promover a pesquisa científica voltado para a busca de cura de doenças ainda consideradas incuráveis; a pesquisa farmacológica para o desenvolvimento de medicamentos, sobretudo aqueles que possam estar ao alcance da população que tenha um menor poder aquisitivo; a pesquisa e o desenvolvimento de instrumentos e tecnologias que tenham como propósito a obtenção de diagnósticos confiáveis e o tratamento da doença.

É claro que esses desafios estão a requerer pesados investimentos, o que só seria viável se a economia dispusesse de uma formidável poupança amealhada, ou seja, fosse uma economia plenamente desenvolvida. No mundo de hoje, contudo, onde as cadeias e processos produtivos tendem a ser mais integrados (diz-se que o mundo é mais globalizado), a solução, na falta de massa crítica para seguir sozinho, parece ser a de se inserir da melhor maneira nessas cadeias e processos produtivos globais e poder aproveitar as oportunidades existentes.

A educação adquire o papel fundamental de preparar a mão-de-obra para participar de processos produtivos cada vez mais complexos e que exigem um nível crescente de conhecimentos e de escolaridade

Quanto à educação, o desafio parece mais evidente, na medida em que a atividade econômica, antes percebida como sendo essencialmente a combinação dos fatores de produção, particularmente capital e mão-de-obra, passou a requerer tecnologia e conhecimento. Em um mundo globalizado, como já dito, o desafio para integrar-se da melhor maneira possível nas cadeias produtivas internacionais é o da competitividade e da produtividade. A questão da produtividade da mão-de-obra passa a ter, portanto, um aspecto central para o desenvolvimento do país no mundo globalizado. E, nesse contexto, a educação adquire o papel fundamental de preparar a mão-de-obra para participar de processos produtivos cada vez mais complexos e que exigem um nível crescente de conhecimentos e de escolaridade.

Verifica-se, infelizmente, que no Brasil, a despeito de progressos obtidos nas últimas décadas em matéria de educação e saúde, ambas estão aquém das necessidades mínimas para habilitar o país a se desenvolver e ingressar, algum dia, no chamado Primeiro Mundo. O caminho a percorrer será provavelmente difícil e certamente não rápido. Mas se não conseguirmos melhorar significativamente a qualidade da saúde e da educação públicas a distância que nos separa do mundo desenvolvido será cada vez maior, o que certamente é incompatível com um país que aspira a ter mais voz nas questões da agenda internacional.

Luiz Augusto Castro
Presidente do Conselho Curador do Centro Brasileiro de Relações Internacionais
Presidente do Conselho Curador do Centro Brasileiro de Relações Internacionais. Economista, graduado pela Universidade Federal do Rio de Janeiro – UFRJ, ele foi Embaixador do Brasil no Paraguai (2000-2004), China (2004-2008) e Japão (2008-2010). No Brasil, foi Secretário-Executivo de Assuntos Estratégicos da Presidência da República, Diretor Geral do Departamento das Américas e Secretário Geral Adjunto do Ministério das Relações Exteriores. Integra o Conselho de Administração do Grupo Pão de Açúcar (GPA). No GPA, preside o Comitê de Desenvolvimento Sustentável. É membro do Conselho Técnico da Confederação Nacional do Comércio (CNC).

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